O Dentista (1996)

Olá, meus caros.

Brian Yuzna é reconhecido por todos as fãs de cinema por sua excelente habilidade de dirigir filmes bizarros com estórias muito bem trabalhadas. Yuzna, em parceria com Stuart Gordon, são as mentes por trás da adaptação para a telona de uma das história de H.P. Lovecraft, no caso, "Herbert West-Reanimator". Tal adaptação se tornaria uma das maiores pérolas do cinema oitentista de terror. Para os que não tiveram a oportunidade de assistir, estou falando do filme "A Hora dos Mortos-Vivos" (No original, "Re-Animator") de 1985.

Mestre louva-a-deus Brian Yuzna no set de filmagem de Faust (2000)
Yuzna dirigiu, produziu e escreveu diversos outros clássicos menores do terror bizarro, como por exemplo, "Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos", "Faust - Pesadelo Eterno", "Progeny - O Intruso", "Sociedade dos Amigos do Diabo", as duas sequências da trilogia Re-Animator e é claro o filme da análise de hoje, "O Dentista".

Fiquei surpreso em descobrir "O Dentista", sinceramente não fazia ideia que esse filmaço existia. Gosto muito de Yuzna, mas esse aqui infelizmente passou batido. Ontem eu estava lendo uma coisa ou outra em blogs de cinema e acabei esbarrando nesse título. A princípio, julgando pelas pouquíssimas imagens presentes, imaginei que fosse mais um filme genérico de terrorzinho barato. Até que bati os olhos no nome do diretor. Fiquei impressionado e não perdi tempo em dar um jeito de assisti-lo.  Arrisco em dizer que esse talvez seja o melhor filme de Yuzna! No decorrer da análise tentarei explicar o porquê.

É infindável a quantidade de pessoas que sentem um pouco de medo ao ir ao dentista. Bem, pelo menos para mim é um temor claramente lógico. Afinal de contas, nunca se sabe se será necessário fazer uma obturação, aplicar anestesia, retirar um siso ou coisa pior. Eu particularmente nunca me importei muito em ir ao dentista. Sempre vi esse profissional da saúde como indispensável para o bem-estar do corpo e da mente. "O sorriso é nosso cartão de visitas", meu dentista sempre dizia. Infelizmente depois desse filme creio que nunca mais conseguirei ir ser receio nas minhas futuras consultas (Ou pelo menos com um pouco de medo).

História: Dr. Alan Feinstone (Corbin Bernsen) possui tudo o que ele desejou na vida: Uma bela esposa, uma mansão, um conceituado consultório e uma popular reputação. Contudo, tudo isso mudaria no dia de seu aniversário de casamento. Dr. Alan encontra sua esposa (Linda Hoffman) traindo-o com o rapaz contratado para realizar a limpeza da piscina. E pelo que aparentava essas escapadelas já aconteciam há algum tempo. Alan simplesmente dá carta branca para a insanidade, um verdadeiro infortúnio para seus pacientes, pois, será neles que Alan descarregará toda sua psicótica frustração.

Dr. Feinstone não encara muito bem a infidelidade da esposa e no decorrer de um dia executa uma verdadeira carnificina em seu consultório. Deixo claro que "O Dentista" possui cenas bastantes indigestas, não sendo um filme recomendado para todos os públicos, em especial crianças muito novas (Só se você quiser que ela nunca mais consiga ir ao dentista).

"Ai, mais que coisa mais feia, mais cheia de desgraça." Tom Bobim
Minha namorada me perguntou se o Dr. Feinstone era um serial killer e eu respondi não! Há uma diferença entra serial killer e spree killer.

O serial killer geralmente planeja meticulosamente todos os detalhes do ato criminoso, no caso o homicídio. Quem, quando, onde. Tudo é preparado para o dia derradeiro. Não obstante, o serial killer geralmente assassina com espaços de tempo razoáveis. Há registros de intervalos de uma semana, um mês e até mesmo um ano entre as mortes. Além disso, o serial killer tende a eliminar qualquer prova que possa lhe incriminar. Pelo menos nas primeiras mortes um serial killer é bastante cauteloso. Por tal motivo, a captura de alguns deles demorou muito tempo e alguns poucos nunca foram capturados. Contudo, no decorrer da série de assassinatos o serial killer sempre tende a ficar mais confiante e convencido, ou ainda, sua psicótica mente já não consegue mais trabalhar coerentemente, é nesse momento que ele tende a cometer algum erro que irremediavelmente levará a sua captura.

O spree killer, em contrapartida, não é tão cauteloso como o serial killer, apesar de ser tão doente e brutal quanto. O spree killer realiza a chamada matança desenfreada. É simples, geralmente uma pessoa doente ou extremamente perturbada surta e acaba matando diversas pessoas em um curto espaço de tempo, sem se preocupar muito em esconder provas ou coisas do gênero. O spree killer também não escolhe suas vítimas. Quem passar por sua frente é um alvo em potencial. Um spree killer pode sair durante a noite e passar de casa em casa assassinando pessoas até se dar por satisfeito. A captura de um spree killer geralmente ocorre logo após o episódio psicótico, entretanto, há relatos onde o psicopata praticou o spree killing em noites consecutivas, sempre matando duas ou três pessoas por noite.

O que Dr. Feinstone possui de maldade lhe falta em perspicácia. Ele mata e não se importa muito com a bagunça ou com o barulho.

O roteirista do filme foi o próprio Stuart Gordon, que mais uma vez soube arquitetar uma bela trama. Não há pontos abertos que dariam margem a interpretações errôneas. Seguimos uma corrente de eventos linear que descrevem a decaída de um homem na loucura, simples mas funcional. Descobrimos que Alan já possuía uma grandiosa obsessão com limpeza (Não só a dental), e com certeza esse foi um dos pontos que potencializaram sua paranoia. Ele simplesmente desejava "limpar" o mundo de toda a sua deterioração impura e asquerosa. Sua maneira de realizar isso era através das cavidades orais de desafortunados pacientes. Eu nunca tinha assistido um filme que tratasse de um complexo de superioridade dental. Esse conceito em si já aparenta ser medíocre, mas "O Dentista" é a prova viva de que qualquer ideia pode ser desenvolvida e transformada em algo aprazível, desde de realizada por pessoas competentes e dispostas.

"O Dentista" é um filme subestimado que conseguiu singrar não somente pelo gore clássico, mas também pelo vultuoso consciente de um psicopata. Um gore psicológico, se você preferir. O que torna essa obra realmente diferente da maioria dos filmes slasher é não sermos apresentados ao ponto de vista da vítima e sim ao do antagonista, que neste caso é o personagem principal. Temos diversos outros personagens no filme: assistentes do consultório, uma adolescente que não vê a hora de retirar o aparelho dos dentes, Mark Ruffalo (Em um de seus primeiros filmes) faz uma pontinha como o empresário de uma modelo, além de um corrupto funcionário da receita federal que fica chantageando Dr. Feinstone em troca tratamentos dentários para não acusá-lo de sonegação de imposto. Nem queira saber o que aconteceu com esse cara, uma das cenas mais grotescas que eu já vi.

Será que ele algum dia imaginou que seria o Hulk?
Corbin Bernsen simplesmente arrasou no papel do Dr. Feinstone. Uma atuação magnífica e sincera. Não precisa ser um gênio para deduzir que é muito, mas muito difícil mesmo, interpretar um psicopata. A maioria dos atores que aceitaram papéis desse gênero não conseguiram realizar nada além de lixo tóxico. Esse não é o caso com Bernsen. Sua atuação foi precisa e extremamente convincente. Um dos pontos altos do filme.

Use fio-dental!
A inspiração para o filme se deu a partir da história de Glennon Engleman (1927-1999). Engleman foi um sociopata de St. Louis, Missouri, que adotava a profissão de dentista como fachada para esconder seu ofício de mercenário. Engleman admitiu em tribunal ter matado em troca de benefícios financeiros. Também alegou que seu dom era matar sem remorso, assim como gostava de planejar os assassinatos e se desfazer dos corpos. Muitos descrevem Engleman como um serial killer... Isso pode ser debatido, uma vez que um serial killer não visa dinheiro... Bom, quem sabe... Às vezes juntou a fome com a vontade de comer. Não se sabe o número exato de vítimas de Engleman.

Glennon Engleman 
Acredite se quiser mas em 1993, três anos antes de "O Dentista", um filme intitulado "Beyond Suspicion" foi lançado para a TV norte-americana. O filme contava a história de Engleman. Adivinha quem havia sido escalado na época para interpretar o nefasto ortodontista Engleman? Isso mesmo, Corbin Bernsen! Com certeza, Bernsen foi selecionado para "O Dentista" graças a sua competência profissional e sua experiência em um papel parecido.

A trilha-sonora é ótima. Além disso, foi bem empregada, encaixando-se sempre nos momentos certos. A trilha-sonora (Ou a ausência dela. Tudo depende da visão do diretor) é o elemento que mantém o suspense em um filme. Achei excelente o esmero em adotar músicas clássicas famosas, como "Tristão e Isolda" de Richard Wagner e "Vissi d'arte, vissi d'amore" de Giacomo Puccini, nas cenas mais tortuosas.

Yuzna mostrou sensibilidade ímpar na direção. Realmente absorvi a transformação do Dr. Alan Feinstone. A pesarosa decaída de um bem-sucedido profissional em um psicopata descontrolado. Foram utilizadas técnicas de filmagem simples como distorção da imagem para emoldurar esse transformação. No fundo, tudo foi bem feito.

"O Dentista" é um filme bem completo... Temos suspense, um bom roteiro, atuações convincentes, sangue, ótima trilha-sonora, uma cena de nudez (Para apimentar um pouco para audiências mais adultas) e mais sangue. Ou seja, a receita perfeita para um bom filme de terror. Se vocês tiverem a oportunidade de assistir, deem uma chance para "O Dentista", um bom filme de uma bela época do cinema, época essa que infelizmente está sendo esquecida.

Abraço a todos!

NOTA: 8

Um comentário:

  1. Nunca se eu assistir esse filme se eu assistir esse filme meu pânico de,dentista vai quadruplica isso e um veneno para pacientes com medo se ver vai acabando nem ir ao dentista

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