A Hora Final (1959)


Olá, meus caros.

Eu gostaria muito de não ter uma postura ofensiva sobre esse filme, mas infelizmente não irei conseguir. Conforme o assisti, percebi dezenas de defeitos na estrutura do enredo (E em algumas atuações).

O plano de fundo da história é simples. No auge da Guerra Fria, as explosões nucleares realmente aconteceram e o único lugar do planeta não diretamente atingido foi a Austrália. Gradativamente a radiação está se aproximando do continente, o que leva a população a tomar certas medidas para sobreviver. 

Cada personagem irá representar aqueles velhos (Na época nem tanto) esteriótipos que já conhecemos... O casalzinho apaixonado, o casalzinho pós-maduro, o cientista alcoólatra, o capitão sereno e por ai vai...

"On the SHIT" é um nome mais apropriado para esse filme.
O talento do elenco é indiscutível, com especial mérito para a atuação de Ava Gardner. Peck, como sempre, nos presenteia com uma atuação objetiva e centrada (Fiel ativista do não uso de armas nucleares, Peck decidiu participar do projeto). Astaire, em seu primeiro filme não-musical, consegue impactar com presença e sentimento. Todavia, não consegui ficar sequer minimamente satisfeito com a atuação de Anthony Perkins (Talvez ele só saiba ser o Norman Bates, mesmo...)

Ele é um ator boa pinta, mas sempre parece estar distante nas cenas e não consegue desenvolver certas expressões que se fariam valer em dados momentos. Ele não era um ator estreante, nem nada, mas é perceptível o amadorismo em sua atuação, principalmente quando comparado com seus co-astros.





Diversos elementos da história também não consigo digerir. Por que raios todo mundo está tão normal?? Gente, o planeta foi "destruído" e está repleto de radiação, que por sua vez, está se aproximando... E as pessoas continuam indo na praia?? Indo trabalhar de bicicleta ou de cavalo com um sorriso no rosto? Que lógica há nisso? Vamos supor que não existisse escapatória do macabro destino que aguardava a população... Esperar sem fazer nada é que realmente não iria ajudar a mudar a situação! Por que esse povo não construiu Vaults ou qualquer coisa do tipo? 

Um diálogo entre a população deveria ser assim:

-Olha a radiação está chegando... Vamos construir alguma coisa para nos proteger?
-Que nada, vamos no praia tomar um solzinho... 
...

Eu sinceramente fiquei feliz que todos esses imbecis morreram.



Não há dúvida que todo o orçamento do filme foi usado para pagar os atores. Um filme completamente parado, com diálogos e mais diálogos. Isso não seria algo ruim se você quisesse assistir a um melodrama histórico. Mas, por favor, se você quer fazer um filme pós-apocalíptico, coloque bastante discussão e explosões, e, se possível, humanos deformados pela radiação. 

O diretor de "A Hora Final" é nada mais, nada menos que Stanley Kramer. Um dos maiores nomes de Hollywood. Ele é o pai dos "filmes com mensagem", mas neste filme seu trabalho como diretor ficou a desejar. Não obstante, ele e/ou o cameraman não conseguiam manter a câmera fixa de jeito nenhum e constantemente cortavam a cabeça dos atores. Não se deram ao esforço de filmar um, pelo menos um, prédio em ruínas para dar o mínimo de realismo a um filme desse gênero.

Perceberam o que quero dizer? O barquinho é mais importante que a cabeça da atriz.
O máximo de ação que chegamos a ter fica a encargo de uma cena de corrida de carros, em que 4 ou 5 dos pilotos batem e seus respectivos carros explodem. E todos do platéia aplaudem o vencedor (Fred Astaire), sem se importar para os pobres coitados que tiveram seus corpos carbonizados nas explosões... Que bela lógica para um filme que quer passar uma lição de "esquecer a guerra e amar o próximo"!


Muitos descrevem esse filme como excelente, verdadeiro clássico, não sei o quê, não sei o quê lá... Mas na minha singela opinião, esse filme é uma porcaria, independente se passa uma mensagem consciente ou se tem um par de ótimas atuações, o filme como um todo não é bom. São 2h15 de imagens estáticas e sem carisma (Não consigo me importar com os personagens). Não tem sequer uma boa trilha sonora!

Para concluir, o motivo da guerra ter acontecido é simplesmente ridículo. Não irei dizer qual foi, deixarei para os bravos descobrirem. Recomendo apenas para cinéfilos.

NOTA: 5

Capitão, péssimas notícias...

WALL-E (2008)

Olá, meus caros.

Quando assisti Wall-E pela primeira vez, fiquei completamente extasiado. Inúmeros foram os motivos para tal. A beleza desta obra é única! Seja a carisma do personagem, o plano de fundo pós-apocalíptico ou a belíssima trilha sonora, tudo contribui para a total imersão na história. Sei que já faz 6 anos do lançamento deste filme e que quase todos já assistiram ao mesmo, mas preciso, mesmo que sumariamente, descrever minhas opiniões sobre ele.

Sou suspeito em dizer muita informação favorável, pois, amo filmes pós-apocalípticos, mas Wall-E é sem dúvida minha animação preferida até o momento. Adoro "A Bela e a Fera", "O Rei Leão", "A Branca de Neve" e "Toy Story", é claro... Mas Wall-E conseguiu atingir-me em um nível muito profundo.

A história é muito bem trabalhada no decorrer da trama. Nosso planeta tornou-se inabitável devido a descomunal produção de lixo, ocasionada pelo super consumismo facilitado pela mega corporação Buy 'n' Large. Com isso, no ano de 2105, os seres humanos foram enviados ao espaço pela mesma corporação para viverem em gigantescas naves totalmente automáticas. Robôs ficaram responsáveis por limpar e recuperar o planeta até o suposto retorno dos seres humanos. Os robôs em questão: os "Wall-E" (Waste Allocation Load Lifter - Earth class). No ano de 2805, apenas um Wall-E conseguiu resistir as intempéries da Terra, que por sua vez, começou a apresentar tempestades de areia colossais. Em seus 700 anos de utilidade, Wall-E desenvolveu personalidade própria (Apesar de ainda respeitar as Três Leis da Robótica, de Asimov), e resistiu ao tempo se reparando com peças dos outros robôs desativados ou parcialmente quebrados. Wall-E possui apenas uma amiga... Uma simpática baratinha. Certo dia, uma nave de reconhecimento, de uma das naves maiores, mais precisamente a "Axioma" que estava vagando pelo espaço, chega a Terra e libera um outro robô, consideravelmente mais avançado... A função da EVE (Extraterrestrial Vegetation Evaluator), o novo robô, é recuperar vestígios de vida orgânica na Terra. É aqui que o filme verdadeiramente começa a ganhar brilho, pois, Wall-E imediatamente se apaixona por EVE e está disposto a fazer tudo para vê-la em segurança e ao seu lado.


O filme possui muita comédia, como é de costume nas animações da Disney/Pixar. É simplesmente impossível de não se apaixonar pelas trabalhadas de Wall-E. Sua simpatia e inocência (O que anda faltando no ser humano...) são contagiantes. O personagem nos ensina tanto, sem sequer dizer uma palavra. Seu romance com EVE é repleto de senso de cavalheirismo e boas maneiras.

O visual do filme é excepcional e acaba compensando pela ausência de diálogos. Precisamos prestar atenção nesse critério. O filme não possui muitos diálogos, pois muitos dos personagens são robôs, que por sua vez, não possuem uma comunicação verbal. Contudo, não é por isso que o roteiro é ruim. Ele de fato é simples, mas transmite na medida do necessário tudo que é essencial para a concisa apreciação do filme, por qualquer espectador que seja. Wall-E é indiscutivelmente um filme para todas as idades. Sua mensagem é extremamente sadia para as futuras gerações, e nos traz luz em observar como estamos cuidando de nosso planeta.

A ideia de Wall-E foi tida entre um almoço de executivos da Pixar em 1994. O diretor Andrew Stanton e os roteiristas John Lasseter, Peter Docter e Joe Ranft também tiveram, no mesmo almoço, ideias para outros filmes. Dentre eles estão: "Vida de Inseto", "Monstros S/A" e "Procurando Nemo".

A concepção original, como dita por Stanton seria: "... e se a humanidade tivesse que sair da Terra e alguém se esquecesse de desligar o último robô?". O roteiro original foi rejeitado por parecer apenas mais uma história de extraterrestres (EVE seria raptada por alienígenas e Wall-E teria que salvá-la). Depois de algum tempo em hiato, a produção retornaria em 2002 (Quando Stanton estava terminando de realizar "Procurando Nemo", começou a reescrever Wall-E).

Wall-E claramente realiza homenagens a Chaplin e Kubrick no decorrer de sua extensão. Diversas cenas são inspiradas nas obras desses cineastas (E de muitos outros).

Outra grande crítica do filme é feita em cima da sociedade hiper consumista da atualidade. A imersão na alienação social se tornou um enorme problema, que de tal modo, acaba apenas dando continuidade ao ciclo de conformidade e consumismo criada pela própria sociedade, que devido a sua inércia inconsciente, não consegue escapar dos estratagemas arquitetados por ela mesma. O ser humano necessita se rebelar contra as instituições que monopolizam sua maneira de pensar, e se tornar integrante de uma sociedade livre e intelectual que irá certificar o seu natural crescimento, liderada por virtudes e não vícios, como é atualmente.

Andrew Stanton verdadeiramente conseguiu realizar uma obra singular, que consegue consubstanciar duas realidades de maneira ímpar, nos transmitindo uma mensagem importante, casada com uma experiência cinematográfica cativante. Um filme brilhante em todos os sentidos!

NOTA: 9.5


Enterrado Vivo (2010)

Olá, meus caros.

Sexta-feira à noite, sem muito o que fazer, comecei a passar os canais na TV... Depois de algum tempo, eis que encontro um canal que estava para começar um filme que eu sequer tinha ouvido falar. Sou meio desiludido com filmes recentes, por isso não adentrei com grandes expectativas ao assistir "Enterrado Vivo", mas de qualquer modo resolvi dar uma chance a ele. 

Fiquei realmente impressionado com esse fabuloso exemplo de cinema minimalista. Um filme que nos transmite sentimentos claustrofóbicos e o verdadeiro desespero daqueles que são levados ao limite da sanidade e do instinto de sobrevivência. O filme todo se passa em um caixão, em que Paul Conroy (Ryan Reynolds), um motorista de caminhão trabalhando no Iraque acaba sendo enterrado depois de seu comboio ser atacado por "terroristas" (O filme até nos proporciona outra luz sobre essa palavra). No caixão, Paul precisará sobreviver com alguns objetos "úteis": celular, isqueiro e uma faquinha. Ele consegue se comunicar com outras pessoas através do celular, inclusive com o terrorista, que solicita uma quantia em direito para libertá-lo. 

Paul praticamente realiza ligações para todos os departamentos de segurança dos EUA e é perceptível a falta de interesse dos mesmos em ajudá-lo de alguma maneira concreta. Sem dúvida a burocracia é a segunda maior crítica do filme a sociedade contemporânea, em que reputações e papeladas são colocados acima da vida humana.

Não obstante, o diretor Rodrigo Cortés descreve de maneira fria os enclaves psicológicos de pessoas expostas ao extremo para sobreviver. Paul ter sido enterrado vivo (Não ter para onde se mexer) sem dúvida pode ser comparado aos próprios conflitos no Oriente Médio, onde o povo árabe acabou sendo submetido a pressões externas e sua sociedade desmantelada. Não estou do lado dos terroristas, mas uma conversa do filme realmente chamou minha atenção. Tentarei reproduzi-lá.

(Conversa pelo celular)

Paul: Por que você fez isso comigo? Eu não sou um soldado! Não tenho nada a ver com essa guerra em seu país!
"Terrorista": Eu também não tinha nada a ver com Bin Laden ou com Saddan Hussen, mas isso não impediu vocês de virem até meu país e destruí-lo...
Paul: Eu não sou um soldado!
"Terrorista": Você é americano?
Paul: Sim!
"Terrorista": Então você é um soldado...
Paul: Eu tenho dois filhos!
"Terrorista": Eu tinha cinco! Agora só tenho um!
...

O que você faria em um país destruído? Um país em que todas as pessoas que algum dia você conheceu, morreram, vítimas das atrocidades da guerra? Como você se sentiria se fosse hostilizado por um povo hostilizado por você mesmo? Ter pontos de vista diferentes realmente podem enobrecer e expandir o domínio sobre dado assunto. E Cortés conseguiu nos transmitir isso. Uma crítica construtiva sobre a brutalidade de ambas as partes. No fundo todos somos seres humanos. E quando o ser humano é colocado no limite de sua existência, percebemos o que ele realmente é capaz de fazer para sobreviver.

Ryan Reynolds nos proporciona uma das melhores atuações de sua carreira, sustentando muito bem toda a tensão inerente a uma produção desse gênero. Sendo o único ator que aparece em tela (todos os outros são apenas as vozes no celular), Reynolds cresce no decorrer da trama, demonstrando toda sua capacidade em uma atuação quase perfeita. Muitas cenas mostram dificuldades perceptíveis ao serem realizadas, e a última cena, nas palavras do próprio Ryan:"... foi uma experiência que não quero tornar a repetir.".

Rodrigo Cortés realizou uma excepcional filmagem em um espaço extremamente restrito. A maneira que ele filmou a primeira tomada fez meu intelecto virar algodão-doce. Cortés filmou uma obra de tensão claustrofóbica com críticas sociais, casada com uma sublime perícia com o câmera. Uma habilidade extremamente difícil de ser encontrada em um cineasta.

Concluo, recomendando "Enterrado Vivo" para aqueles que gostariam de se aprofundar nas mais diversas perspectivas sobre os conflitos do Oriente Médio ou os que queiram cada vez mais entender a natureza do homem.

NOTA: 8