Lucy (2014)

Olá, meus caros.

E se nós usássemos 100% de nosso cérebro? O que aconteceria? Aprenderíamos outras línguas rapidamente? Teríamos poderes telecinéticos? Ou uma super memória? Essa é a premissa fundamental dessa ficção dirigida pelo francês Luc Besson, que na década de 90 nos agraciou com o maravilhoso filme de ação "O Profissional".

História: Lucy, uma jovem vivendo em Taiwan, se envolve por acidente com traficantes. Estes, por sua vez, usam Lucy para transportar uma nova droga. A C.H.P.4, como é chamada, foi cirurgicamente inserida dentro do abdome de Lucy. Quando o invólucro que contém a droga se rompe, graças ao chute de um traficante, a substância é absorvida pelo organismo de Lucy em grandes quantidades. Com isso, a "desafortunada" moça passará a utilizar 100% de seu cérebro. 


O problema começa nessa parte do filme. Até então, a narrativa era muito boa e até fazia sentido. Não obstante, a atuação de Scarlett Johansson como Lucy foi bem convincente.

Mas o exagero simplesmente conseguiu estragar tudo. Parece que Luc Besson estava no LSD quando escreveu o roteiro, que aliás levou incríveis 9 anos para ficar pronto!

Dentre as inúmeras proezas que Lucy consegue realizar estão: Telecinese, ler mentes, mudar a forma física, controlar a matéria, viajar no tempo e no final do filme nem queiram saber! Ou seja, juntaram a Mística, o Profº Xavier, a Jean Grey, o Ciclope e todos os outros X-Men em uma única pessoa.

Já entendi! Se uma pessoa cheirar 30 kg de cocaína azul, uma overdose diabólica é a menor de suas preocupações. Na realidade a pessoa se tornará um super-herói indestrutível e possuidor de todo sabedoria humana. Ah, esqueci de mencionar que irá obter a imortalidade! Sério mesmo, Luc? Que baixaria! Eu esperava isso de qualquer um, menos de você.


O exagero vai além, muito além do além, do máximo acreditável. Sem mencionar que a premissa do filme é totalmente falha. Usar 10% do cérebro é um dos maiores mitos da ciência. Já foi provado que o ser humano utiliza 100% de seu cérebro.

Nossas funções neurais não funcionam isoladamente, ou seja, todo o cérebro trabalha em conjunto para desempenhar as atividades psico-motoras e cognitivas. Já foi provado através de ressonância magnética a total funcionalidade do cérebro. Não existe nenhuma parte inativa na massa cinzenta do ser humano. Bom, talvez na do diretor Luc Besson exista...

Sabe, eu até entendo a intenção dele. A questão não é o fato disso ser verdade, e sim, se for verdade... Mas o exagero é tão inexplicável que toda a situação se torna mais furada que camisinha de prostituta.

Bom, vamos falar um pouco dos aspectos técnicos dessa baboseira pseudocientífica.

Como eu disse, Johansson começou atuando bem, mas depois que ela foi intoxicada pela droga sua atuação ficou chata pra caramba. Sem expressão, sem graça, sem coração, sem tudo. Sei lá, acho que o diretor queria que ela parecesse um robô.

Morgan Freeman tá mais ou menos. Min-Sik Choi (O Oldboy da versão coreana) interpreta o líder dos traficantes. Não foi uma atuação fantástica, mas foi a melhor desse filme.

Músicas ruins sempre fora de lugar. Péssima cena de tiroteio (Todo mundo erra os tiros, depois de um tempo chega um coreano maluco fazendo um ultra powerslide e explode tudo com uma bazuca!!).

O filme também possui uma horrenda imprecisão arqueológica, descaradamente ensinando errado para as audiências.

Lucy foi o nome dado para o "primeiro" fóssil de um de nossos descendentes. De cerca de 3.2 milhões de anos, o fóssil em questão era uma fêmea do Australopithecus afarencis, encontrada em 1970 na Etiópia pelo antropólogo americano Donald Johanson. Lucy era considerada a primeira primata com uma estrutura esquelética adaptada ao andar ereto.

O nome do primata Lucy é uma homenagem a célebre canção dos Beatles, Lucy in the Sky with Diamons. Todos sabemos da época em que o quarteto de Liverpool era aficionado por drogas sintéticas. Tal fato ficou registrado em diversas de suas músicas, inclusive a mencionada. Observe as iniciais das palavras: LSD. Esta, por sua vez, foi a mesma droga que a Lucy do filme foi exposta.

Em 1982 foi descoberto o fóssil do Ardipithecus ramidis, um homídio ainda mais antigo que Lucy. O título de homídio mais antigo foi perdido por Lucy já faz tempo! Mas parece que Luc Besson não se importou com esse "detalhe" e resolveu fazer tudo errado mesmo...

É realmente irônico, Luc Besson fez um filme onde a protagonista usa 100% de seu cérebro, mas para o expectador gostar o mínimo possível, ele terá que desligar o cérebro totalmente!

A único elemento interessante do filme é o fato dele levantar reflexões filosóficas sobre a existência humana. De onde viemos? Para onde iremos? Esse tipo de coisa. Ando percebendo através de livros, filmes e pesquisas que o ser humano anda se importando muito com o tempo. E esse é um dos temas discutidos no filme: a imortalidade da mente/energia. O finitude da existência nunca esteve tão em alta. Será que estamos com medo do futuro? Da decrepitude inevitável da carne?

O filme levanta uma ou outra questão interessante, mas no geral, simplesmente não convence. Luc, por favor, use 100% do cérebro da próxima vez. Só recomendo para quem é fã(nático) pela Scarlet.

NOTA: 4 

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